Oradores Convidados:
- ANA FILIPA ABRANTES, Direcção Regional da Cultura, Região Autónoma da Madeira
- MARIA EMANUEL ALBERGARIA, Plano Nacional das Artes
- DUARTE ENCARNAÇÃO, Universidade da Madeira
- GONÇALO GOUVEIA, Universidade da Madeira
- LUÍS MATEUS, Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa
Comunicação aprovada:
- SANDRA FREITAS e ISABEL LUCAS, Escola Secundária de Francisco Franco

ANA FILIPA ABRANTES
Direcção Regional da Cultura, Região Autónoma da Madeira
OS TETOS MUDÉJARES DA SÉ DO FUNCHAL
Nesta comunicação iremos apresentar a intervenção de conservação e restauro dos tetos mudéjares da Sé do Funchal, que decorreu entre novembro de 2019 e novembro de 2021, e abordar os elementos que originaram toda a sua complexa estrutura de madeira, que é simultaneamente decorativa e estrutural.
Natural do Funchal, licenciou-se em arquitectura em 1999 pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, tendo frequentando o último ano ao abrigo do programa Erasmus na Universität Kassel, Alemanha e efectuado o estágio curricular no atelier do Arquiteto Albert Speer em Frankfurt, Alemanha. Concluiu em 2007 a pós-graduação em Recuperação e Conservação do Património Construído no Instituto Superior Técnico em Lisboa. Colaborou pontualmente em diversos ateliers privados. Pertence aos quadros da Direção Regional da Cultura da Região Autónoma da Madeira desde 2001 como Técnica Superior e tem colaborado no desenvolvimento de diversos projetos de recuperação de imóveis de interesse cultural e no acompanhamento de obras, de projetos de conservação e restauro e de outras atividades de divulgação do património cultural.

MARIA EMANUEL ALBERGARIA
Coordenadora Intermunicipal do Plano Nacional das Artes
A RISCAR COM O PLANO NACIONAL DAS ARTES
O Plano Nacional das Artes é uma estrutura de missão, criada em 2019, pelos Ministérios da Educação e da Cultura, desenhada para um período temporal de 10 anos, que apresenta 3 eixos de ação estratégica: Política Cultural, Capacitação e Educação e Acesso. O PNA pretende promover a transformação social mobilizando o poder educativo das artes, das culturas e dos patrimónios na vida dos cidadãos. Desejámos o acesso de todos à fruição e à produção artística e cultural (equilibrar desigualdades), fomentamos a colaboração e a articulação entre agentes culturais, artísticos, a comunidade educativa, entre outros intervenientes, no sentido de desenhar estratégias de ensino e de aprendizagem que promovam um currículo integrador e sem muros entre a Escola e o território onde esta se inscreve.
Propomos indisciplinar, transdisciplinar, criar projetos culturais nas Escolas que as afirmem como polos culturais, e os equipamentos culturais se afirmem como territórios educativos, para podermos responder aos desafios e aos problemas que se nos colocam, através das artes, das culturas e dos patrimónios. Com residências artísticas nas escolas, esbatendo muros, abrindo portas, quebrando a rigidez das hierarquias, com mais liberdade e participação de todos. Pretendemos desenvolver a criatividade, o espírito critico, o bem-estar afirmando o paradigma da Democracia Cultural.
No âmbito da Escola + 21 |23, Plano de Recuperação das Aprendizagens “Recuperar com artes e humanidades”, apresentamos o Roteiro Espécies de espaços, como lhes chamou Georges Perec, com 5 cenários/recursos de aprendizagem: da folha de papel à sala de aula, do pátio da escola à cidade ou ao campo, do espaço privado-interno aos lugares públicos-externos. Pretendemos valorizar e aproveitar, através de diferentes pedagogias e processos artísticos, o corpo, a observação e os espaços onde se ensina/aprende – compreendendo que o próprio espaço condiciona a nossa existência e molda as experiências de aprendizagem. Das cinco propostas irei focar o Cenário#4: Estátuas e monumentos no espaço público: presenças e ausências.
Nasceu em Ponta Delgada, em 1962, tem formação em artes visuais, antropologia e ciências da educação. A sua atividade profissional tem-se desenvolvido principalmente nas áreas da educação, do património e da mediação cultural. Docente em diversas escolas do ensino básico do país. Realizou o filme “Rapto dos Gêmeos das Cavernas”, prémio vídeo escolar, 1997. Entre 2003 e 2006, desenvolveu o Atelier de Expressões Artísticas, na ala feminina do Estabelecimento Prisional em Ponta Delgada. Entre 2007 e 2011 coordenou o Serviço Educativo do Museu Carlos Machado e foi responsável pelo projeto Museu Móvel. Em 2011, em Ponta Delgada, realizou a instalação artística “Uma Casa na Floresta”. Entre 2011 e 2013, integrou o Serviço de Animação e Educação do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em Lisboa. Entre 2014 e 2018, coordenou a equipa de Património Cultural Imaterial do Museu Carlos Machado, desenvolvendo projetos arte/comunidade. No ano letivo 2018/2019 foi assessora no Conselho Nacional de Educação. Desde 2019 faz parte da equipa técnica do Plano Nacional das Artes.

DUARTE ENCARNAÇÃO
Professor Auxiliar, Universidade da Madeira
PENSAR UM DESENHO HÍBRIDO. O CONHECIMENTO HÁPTICO NA ERA DA IMAGEM TÁCTIL NO ENSINO SUPERIOR (CAMPO EXPANDIDO)*
Na era galopante da visualização táctil e da emergência na instrumentalização da inteligência artificial (promessas da proximidade na distância) coloca-se a questão autoral como primitiva premissa de individualidade e subjetividade no fazer e ver fazer através das transmutações do desenho como enigma, possessão, mito e verdade. Pretende-se dar em apreciação um panorama de revalorização e necessária revitalização do desenho como atividade intelectual e emancipadora do contacto com o mundo desde a acção quirográfica (e extensão digital…) como meio elementar e essencial de apreensão, captura e entendimento em diferentes processos de aprendizagem háptica do meio envolvente. Na atualidade, parece-me que o desenho, como exercício do tactear reaparece sobredimensionado na capacidade de interpretar o espaço mensurável e estruturado na distribuição da densidade dos objetos de estudo, principalmente na exploração da anatomia humana (desenho de modelo artístico) para desenvolver um pleno sentido de autoconhecimento. Com este denominador comum, ganha força a frase de Le Corbusier que aponta sobre o paradigma das relações entre desenho e máquina (fotográfica), “Prefiro desenhar que falar. Desenhar é mais rápido, e deixa menos espaço para a mentira”.
Tratando sobre estas correspondências, numa leitura sobre os gestos e a pertinência científica, o verbo desenhar pressupõe pensamento em tempo real, um pensar latente que se quer fixar e expandir para esclarecer sobre a partilha de conhecimento, neste âmbito, será exemplificada uma série de exercícios didáticos denominados por sessões de “video-desenho” e de “desenho no quadro” que permitem descortinar e possivelmente entender a insegurança com que desenhamos hoje, apresentando as limitações inerentes de que quem pouco ou nada desenha, numa apresentação crua do processo sobre o momento de intimidade partilhada (próprio do acto de desenhar), a experiência como confronto de demonstração ou ensaio do estudante de artes visuais permitindo consciencializar o desenho como instrumento primordial e principal de comunicação, colocando a tónica no desenhar para quê ? num agora instalado convívio de aplicações que multiplicam a imagem e/ou facilitismo estereotipado: Chat GPT, OpenArt, Hotpot, NightCafé…torna-se mais claro para nós, para quem desenha, esta partilha do momento por importantes contributos e aproximações ao pensamento (grafia) em diferentes autores como: John Berger, Juhani Pallasma, Francis Wells, Gottfried Bammes, Robert Smithson, Diller & Scofidio, Marcos Novak, John Kormeling, AVL, Mark Fisher, Franck Gery, Gunter Domenig, Oscar Niemeyer, Gordon Matta-Clark, Frederick Kiesler, Hugh Ferris, Norman Foster, Buckminster Fuller, David Hockney, Lebbeus Woods, Santiago Calatrava, Stephen Wiltshire…entre outros.
Para finalizar, dedicaremos parte desta reflexão aos conteúdos do plano de estudos das diferentes unidades curriculares dedicadas ao Desenho (Laboratórios) que são leccionadas na licenciatura em Artes Visuais (UMa).
*Esta conferência será dedicada à memória de Celso Caires (1958 – 2014), Professor de Desenho do extinto ISAD – Instituto Superior de Arte e Design, (integrado actualmente como Departamento de Arte e Design na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira), Funchal.
Doutorado em Bellas Artes (2010) pela Universitat Politècnica de València, Departamento de Escultura, Programa de Artes Visuales e Intermedia, com a Tese “Expansiones del híbrido escultura / arquitectura: Cartografias de un Arch-Art como respuesta al arte público crítico”, Especialista Universitário (2005); DEA – Diploma de Estudios Avanzados (2002 – 2004). Licenciado em Bellas Artes (2001) (Licenciatura em Artes Plásticas – Escultura: ISAD/UMa), Título homologado a Bellas Artes por el Ministério de Educación – Dirección General de Política Universitária, Subdirección General de Títulos y Reconocimientos de Cualificaciones. Realiza conferências e tem colaborado como investigador e artista em várias instituições de ensino superior: Universitat Politècnica de València, Universidad del Pais Vasco, Universidad de Málaga, Universidad de Zaragoza, Universidad de Granada, Universidade de Lisboa.
É Professor Auxiliar no Departamento de Arte e Design, Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira e Diretor da Licenciatura em Artes Visuais. Como artista visual desenvolve um trabalho híbrido entre a escultura, o desenho e a sugestão arquitetónica, refletindo sobre o mundo actual através de elementos de ficção, a história e o espaço público como espaço político explorando naturezas distópicas e utópicas.
Está representado em coleções particulares e na coleção do MUDAS, Museu de Arte Contemporânea da Madeira.

GONÇALO GOUVEIA
Professor Auxiliar, Universidade da Madeira
A PERSISTÊNCIA DO GEÓMETRA PERANTE UM MUNDO LIQUESCENTE
Propomo-nos, nesta intervenção e cerca de duas décadas volvidas sobre a defesa original da tese subjacente e recorrendo à análise de uma experiência pedagógica decorrente, concreta e, nomeadamente, à abordagem de software didático criado nesse contexto, debater os contornos de uma epistemologia da geometria descritiva, como forma de aproximação crítica consequente aos diversos aspetos que enformam esse campo do saber. Parte-se de uma experiência efetiva, indiciadora da relevância da construção teórica dessa abordagem, de modo a evitar a redundância argumentativa das constatações de facto, sem alcance útil na renovação do potencial pedagógico da sua arquitetura científica. Pretende-se ensaiar, tanto ao nível da estrutura argumentativa como das conclusões que se propõem, uma tese sobre o âmbito de debate da geometria, em função do estado da cultura, da arte, do ensino da arte, e do ensino da geometria nesse contexto, ao nível do Ensino Universitário da Arte. No passado, poucas dúvidas restariam quanto à via a seguir: A geometria é uma ciência; a matemática a ciência que a fundamenta e enquadra; e a via da sua expansão, operacional e utilitária, um dever paralelo à consolidação da sua legitimação axiomática. A constituição de uma disciplina de geometria no âmbito do Ensino Superior Artístico, por seu lado, essencialmente orientada para a primeira via, pauta-se pela tradição curricular e programática da geometria descritiva, fundada sobre o método inaugurado por Monge, estendendo-se, eventualmente, a sua lecionação ao campo das cónicas elementares, por via da prática operacional da perspetiva rigorosa, ou, esporadicamente, à resenha superficial da sua história e aos aspetos iconográficos mais evidentemente associados. É, assim, a sintonia epistemológica que constitui a grande questão deste processo. É essa negociação que se evita a todo o custo, precisamente porque esta exige uma configuração do entendimento, e, logicamente uma ampliação das capacidades, da erudição, que pressupõe uma amplitude cultural abrangente e atualizada, desconhecedora das limitações canónicas do saber disciplinar mais microscópico. Mas esta convergência necessária, com os riscos que comporta a renegociação curricular implicada, em termos de eficiência e prestígio, e a desterritorialização, que acarreta, é o ato inaugural da ligação, sem o qual se torna evidente a impossibilidade de construção de um conhecimento repartido por duas ordens claramente distintas e, frequentemente contraditórias. É nessa negociação, acreditamos, que se jogarão no futuro as possibilidades de sentido e continuidade de qualquer disciplina académica, sobretudo quando esta é geneticamente vocacionada, e cientificamente fundada, para alicerçar a engenharia conceptual de mundos que criamos como transubstancia dos entendimentos que se enformam e comunicam no ato estético, numa consequente partilha epistemológica.
Nasceu no Funchal em 1968. Cursou Escultura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa entre 1986 e 1990 e obteve, em 1991, o National Diploma in Fine Arts / Printmaking, pelo Crawford College in Art and Design, na República da Irlanda. Em 1992 licenciou-se em Artes Plásticas / Escultura pelo Instituto Superior de Arte e Design, no Funchal. Doutorou-se em Ciências da Arte / Educação Estética, com incidência na Geometria Descritiva, com a tese: A Existência do Geómetra – Epistemologia, fundamentação e pedagogia de uma Geometria Descritiva para o ensino artístico universitário, em 2006. É docente no Ensino Superior desde 1993. Atualmente, integra o Departamento de Informática e Design de Media Interativos da Faculdade de Ciências Exatas e Engenharias da UMa, sendo membro do Conselho de Curso do 2º Ciclo em Design de Media Interativos, e lecionando unidades curriculares nos primeiros ciclos de estudos em Artes Visuais e Design, e nos segundo Ciclos de estudos em Design de Media Interativos e Gestão Cultural. Exerce atividade na área das Artes Visuais, desde 1991, destacando-se as mostras individuais focadas em temas ligados à identidade insular, e desenvolve trabalho na área da ilustração multimédia.

LUÍS MATEUS
Professor Associado, Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa
A CONSTRUÇÃO DE MODELOS FÍSICOS COMO RECURSO DIDÁTICO EM GEOMETRIA
Nesta apresentação discutir-se-á a construção de modelos físicos como recurso didático/pedagógico em geometria.
Começa-se por estabelecer um panorama geral tendo em conta alguma recolha bibliográfica. De seguida enunciam-se alguns princípios que podem nortear a ideia de que a construção de modelos físicos pode ser uma chave para estabelecer a relação ensino/aprendizagem em geometria tornando tangível alguns aspetos da disciplina que, de outro modo, passariam despercebidos. Uma parte desses aspetos tem a ver com a física dos materiais que são utilizados para a construção dos modelos, que se traduz, necessariamente, num comportamento específico. Explora-se a ideia de que o modelo físico não tem de ser necessariamente o corolário de uma processo de representação gráfica que leva, no final, a uma construção precisa. Pretende-se antes notar que o modelo físico pode ter vários níveis de precisão, pode ser o ponto de partida para a abordagem de um problema geométrico, e pode ser o suporte para a transferência de informação entre diversos modos de representar.
Explora-se também a ideia de transversalidade entre formas de representação salientando as vocações de cada uma. Explora-se a capacidade de olhar para o modelo físico e dele extrair a informação mínima e necessária para uma definição geométrica. Apresenta-se exemplos de abordagens deste tipo em contexto de aula e de workshop, utilizando materiais diversos como papel, cartão e bambu. E percorrendo escalas também diversas desde a ideia de maquete até à construção à escala humana.
Luís Mateus é professor associado no departamento de Desenho, Geometria e Computação da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa (FAUL). É docente deste 1997 ensinado nas áreas da geometria e computação. É o responsável pelo grupo de investigação ArcHC_3D e membro do Design and Computation Research Group, ambos do Centro de Investigação em Arquitetura, Urbanismo e Design (CIAUD) da FAUL. Especializou-se e desenvolve investigação no uso do varrimento laser e da fotogrametria aplicadas à documentação e conservação de património, bem como na aplicação de métodos de modelação paramétrica em arquitetura. Participou em vários projetos de investigação fundamental e aplicada com entidades públicas e privadas. É membro perito do CIPA (comité do ISPRS para a documentação de património). Publica regularmente, orientou várias teses de mestrado e doutoramento. Na FAUL, foi vice-presidente do conselho científico, e é membro do conselho de Gestão e Vice-Presidente.
SANDRA FREITAS e ISABEL LUCAS
Escola Secundária de Francisco Franco
A LITERACIA DOS INSETOS NA ARTE: A CONEXÃO ENTRE CIÊNCIA, TÉCNICA, ESTÉTICA E ÉTICA SOCIAL
(descrição da comunicação a anunciar em breve)